A/C Micaela

Minha amiga Micaela ontem reclamou saudade. E eu sabia do que se tratava. Ela sofre de uma dor crônica que somente as grandes perdas conseguem acometer profundamente até os espíritos mais robustos. Sempre fora forte, impaciente e até um pouco fria, ao mesmo passo que demonstrava uma profunda sensibilidade acerca da vida, das pessoas e do misticismo.

Micaela sempre teve ouvidos para ouvir e surpreendentes olhos para enxergar. E eu me perguntava “Como isso era possível?”… Será que ela via tudo ou eu que não enxergava nada?

Ela não sabe, mas muitas vezes virei noites pensando sobre isso e por mais que tentasse as tentativas eram sempre vãs, pois nunca tive respostas. Com o tempo descobri que quanto mais se pergunta, menos respostas se tem devido a uma dinâmica que ainda é estranha para muita gente (inclusive a mim).

Micaela perdeu a mãe e quando tal fato aconteceu logo fui atrás dela para ver como estava. Gostava muito da mãe dela que sempre me recebia de forma carinhosa (e eu retribua o carinho como uma filha). Micaela desabafou ontem no Facebook e junto com o texto inseriu uma foto de Dona Helena. Entre todas aquelas palavras de dor, saudade e tristeza era perceptível o quanto Micaela se tornava, a cada dia, mais parecida com a mãe…

O tempo, como nunca se fez de rogado, continuou o seu trajeto mundano.

 Micaela seguiu o seu caminho a duras penas que ninguém sabe de fato o que ela sente e eu também continuei por caminhos, estradas e atalhos, mas nunca me esqueci do que ela me disse quando a visitei após a morte de Dona Helena “Sabe… Depois que se perde a mãe, a gente não tem mais medo de nada nesta vida”.

Esta frase foi lançada ao vento com firmeza e dor, e pude perceber como ela se esvaiu pelo ar naquela tarde nublada que não lembro o dia e nem sequer o ano. Eu não tive o que falar e resignadamente fiquei somente a observando, pois queria que ela soubesse que eu acompanhava a sua dor, cujo tamanho jamais poderei saber.

Micaela muito me ensinou e ela nem imagina o quanto. Mesmo longe sempre acompanho os seus passos e conheço algumas de suas lutas mais “aguerridas”. Ela sabe persistir e é movida por um sentimento. Micaela agora encontrou o Amor.

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