Mês: dezembro 2023

  • O gato e a conquista pelo olhar

    O gato e a conquista pelo olhar

    Estou chateada. Amanheci chateada. Alimento um casal de gatos de rua. Minto. Não é um casal trata-se de pai e filha. Ele é um vistoso gato preto de mato. Detentor de um andar majestoso, ora preguiçoso, que faz qualquer supersticioso se benzer por três vezes caso o venha encontrar. Tenho lá minhas superstições, mas não…

  • Os sussurros do Pão de Açúcar

    Os sussurros do Pão de Açúcar

    Certa vez, observei duas tias conversarem sobre os avessos da vida, suas dificuldades e desilusões. Não foi uma tarefa agradável, mas necessária. Observar o cotidiano com todas as suas mazelas detalhadas é tarefa minha que abraço com fé. Em algum momento de tão sólida discussão, naquele instante em que uma quer provar a outra que…

  • Fantasmas de si mesmos

    Fantasmas de si mesmos

    Fim de tarde. Um casal caminha por uma calçada no centro da cidade. Distraídos entre si, porém atentos as vitrines. Se procuram algo para comprar é impreciso, pois seus olhares deslizam de um canto para o outro, para cima e para baixo, e nada parece alegrá-los. Como todo casal de hoje, um aparenta fadigado, enquanto…

  • O estranho e fluído Senhor F

    O estranho e fluído Senhor F

    Ele caminha. É pesado e fluido ao mesmo tempo. Como consegue? Isso é inexplicável. De algum modo particular mantém o ritmo. Darei o nome de Senhor F. Lembra fluido sim e ainda preservo a sua identidade. Mais do que saber quem ele é, é interessante observá-lo como conduz a sua existência: com lentidão. Lentidão de…

  • Lembro-me dos antepassados meus

    Lembro-me dos antepassados meus

    Lembro-me dos antepassados meus. Gosto de rememorá-los em suas maiores sutilezas, proezas, perspicácias… Nada de tristezas, não é bom para eles, menos ainda para mim. Em meio a esses incentivos emocionais recordei hoje o meu pai. Por volta de 2005, a nota de um real parou de ser produzida. Mas antes, em torno de 1998,…

  • Na penumbra do perigo

    Na penumbra do perigo

    Ela subiu o morro. Era a sua primeira vez. O território lhe era desconhecido. Aos nativos, não. Quando nenhum táxi ou mesmo Uber faz a “corrida” deve-se desconfiar. Ainda sim ela insistiu. Para piorar estava toda produzida, da cabeça aos pés, denunciando ao longe que era turista. Eu também, de longe, através do meu celular,…

  • Eu fui uma criança medrosa

    Eu fui uma criança medrosa

    Encontrei ontem meu vizinho Plínio. Agora maior, pouco fala. Está em uma nova fase do desenvolvimento humano. Se, quando pequeno, era um garoto curioso e cheio de energia, agora é um menino arredio, tenso e sem brilho. Ele não tem culpa. Tornou-se uma vítima do próprio pai, que nele projetou todo o medo. Temo que…

  • Eu gosto de crianças. Mas decepcionei um

    Eu gosto de crianças. Mas decepcionei um

    Eu gosto de crianças. Mas decepcionei um. Foi um erro incorrigível. Aconteceu há quatro anos, quando ele, Plínio, contava com apenas seis anos. Era meu vizinho de condomínio. Seu apartamento era justamente sobre o meu. E era difícil um dia em que não nos encontrávamos (pelo menos, uma vez ao dia). Sempre vi em seus…

  • Ironias da vida

    Ironias da vida

    Toda vez que me deparo com as chamadas “ironias da vida” sinto-me receosa. É uma reação natural a tudo que é maior e mais forte, como, por exemplo, os fenômenos da natureza. O exemplo master é a própria vida, maior e mais forte, abarcadora de tudo e todos. E foi em meio as amenidades próprias…

  • A juventude do amor

    A juventude do amor

    Hoje encontrei um casal de namorados. Eram ainda adolescentes. Caminhavam sincronizados e de mãos dadas. A julgar pela aparência apostaria que teriam uns quinze anos. Bem sei que posso ter errado. Não se acerta mais facilmente a idade, como se fazia no passado. Não eram bonitos, mas carregavam a beleza própria das primeiras descobertas do…