O título é proposital, como todo o artigo integralmente é. Assim como a frase original (ou ao menos famosa) “diga-me com quem andas e direi quem és” tem-se a expressão magnânima da revelação dos fatos frente à luz uniforme dos detalhes.
Com a popularização da internet no Brasil tudo ficou, ao mesmo tempo, efêmero e intenso. Tanto que a necessidade de acompanhar tudo em tempo real nos deixa carismáticos (leia-se selfies) e apáticos (desprezo pelo outro na realidade e olhar intermitente ao celular). Ou seja, somos tão contrários nessa (in)justaposição…
Nas redes sociais, principalmente Facebook e Twitter, somos quem podemos ser (opa, você também gosta de Engenheiros do Havaí?) a qualquer momento com o localizador do smartphone ligado ou não. E é justamente nesses dois lugares “virtuais” que “o sonho ilusório se torna realidade”. E é o que mais se tem “visualizado” — os desejos reais das pessoas tão latentes e impertinentes.
Em algum mês de 2015, foi publicada uma reportagem que o Facebook sabia mais de você do que seus pais, cônjuge, vizinhos e papagaios. Era necessário somente 150 curtidas para que a Rede tivesse todo o seu mapa psicológico (e outras cositas mas). Bom, posso ser sincera? (Respiro fundo, olho para os meus cachorros e sorvo um gole de café). Ainda que existam preciosidades científicas bem nomeadas como Filosofia da Linguagem, Lógica, Programação Neurolinguística, Análise do Discurso e Programação de Computadores, a brincadeira de ver quem é quem na web é simples e divertida.
Em outras palavras, não é só a “turma do Zuckerberg (Mark — SEO do Facebook)” que está de olho em você, existem pessoas bem mais próximas que te observam atentamente (que medo!). Assim como na realidade comum (a do nosso belo cotidiano com pessoas, cachorros, carros e toda parafernália) você é uma pessoa que mostra outra imagem para os demais.
Existe problema nisso? Se você não problematizar, #ta tranquilo, ta favorável. Mas, se você começa ver peixes nas nuvens é bom clicar no botão “sair” e reconectar a realidade… Comum! Ah, mas é tão difícil… Os dedos coçam para “logar”, o frio na barriga é corrosivo — tudo fruto de rápida abstinência virtual.
Também pudera. Depois do BBB (a deturpação da obra de George Orwell que se estivesse vivo seria mais um a se decepcionar com Pedro Biallll) que trouxe a (des)necessária hiperexposição das pessoas cada vez mais pessoais, acostumamos a ver a luta dos nossos “heróis” no Feed de Notícias em busca de um lugar de destaque no Trending Topics ou muitos likes, likes e likes. E o que resta?
Pedidos de inveja “Nun sei pq si preocupam tantú com minha vida” ou “Pras recalcadas di plantão, sei q encomodo muito. mais sou melhor q vc pode imagina” e ainda “Vcs q gostao de toma conta da minha vida so tenho q dize uma coisa, as conta do mês já chegou”.
Ostentação “Dom não é pra colqueru” ou “Vida dificiu…pegar meu carrão, levar as mina e as garrafa de red leibú…num eh praqulaquer um” e ainda “Aí mano, cordau di oro éh so a diretoria ki tem”.
Reflexões “Quando vc diz que num veju mas saída, Deus dis, eu guiare seus pasos” ou “Certas coisa eu num gosto d falar mais gostaria que as pessoa percebesem” e ainda “Enquantu alguns escolhem as pessoa perfeita, eu escolhu as q mi fasem bem”.
Quando não há os espancamentos com o Velho Portuga realizados acima que, por sinal, deixa tudo incompreensível o que se tem é o que a filósofa Marcia Tiburi muito felizmente diz que “a gente invade a privacidade” e a isso é preciso acrescentar a questão da moralina (Nietzsche a daria um beijo macio com aquele bigodão) onde vemos a pregação da “linda” e maravilhosa moral e bons costumes.
Mais do que na realidade comum é difícil ser você mesmo nas redes sociais, principalmente, se entre seus amigos há familiares, o pessoal do grupo de oração X, a turma do partido, os membros da Sociedade Brasileira Etc.
Será por isso que estamos nos tornando inimigos de nós mesmos? 150 curtidas é pouco para mapear a personalidade de um indivíduo uma vez que, esse mesmo indivíduo se revela nas curtidas não clicadas, nos comentários lidos e não opinados e naqueles testes feitos e não compartilhados — não dá para se revelar!
Ah, mas sempre existe uma boa saída à francesa com o nato jeitinho brasileiro: crie um fake ou faça uma página com o nome “Fulano Indelicado” e aí a velha máscara da persona poderá entrar em cena, ou melhor, ficar on.
Se, por outro lado, é trabalhoso e você não sabe “viralizar” uma página a dica é: comente ao estilo “tapa de luvas” e acrescente, ao final, um “kkk” ou “rsrs”. O gosto será um misto de ironia com sensação de dever cumprido. É favorável e mais: tranquilo!
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