Eu sou astrofóbica

Eu sou astrofóbica. Uma pessoa astrofóbica é aquela que tem medo de raios e trovões. Eu não tenho medo. Tenho um incontrolável pavor. Essa fobia surgiu quando eu era criança, e como é próprio da infância, apareceu como um medo. Mas a medida que fui crescendo, o medo se desenvolveu na mesma medida. Por isso, agora digo que tenho fobia, astrofobia. Não sou só eu quem padece com este pavor, a cantora Madonna também.

Deve ser estranho para muitos saber que a grande cantora pop sucumbe aos raios. Comigo as pessoas riem, elas não conseguem conter o riso. Para alguns é uma bobeira, para outros, frescura. Ora, não é mesmo. O raio é maior e mais veloz que tudo que está a nossa volta. Ele cai do céu, ele destrói, ele mata. Agora mesmo caiu um, forte e claro. Segurei a respiração perante o susto. E logo lembrei de outra astrofóbica, uma anônima, minha tia Rô. Ela sofre mais do que eu, ela se desespera. Eu choro, tremo e transpiro excessivamente, quente e frio. Há anos que não vejo a minha tia, mas quando começa a trovejar lembro dela rapidamente.

Os raios voltaram a iluminar o céu antes enegrecido em plena tarde quente das 16 horas. Evito olhar, como não há ninguém aqui para me abraçar pego a caneta com força e escrevo. A caneta e os meus pensamentos ganham velocidade, o meu peito dói (deve ser porque chorei muito, mas sei que não foi o suficiente).

Talvez você queira saber por que desenvolvi essa fobia. Pois bem, vou tentar explicar. Desde criança sempre ouvi dos meus pais, tios e outros adultos histórias trágicas de mortes provocadas por raios. São as famosas histórias de roça, sabe? Aquilo mexeu profundamente comigo. A pior foi de uma conhecida da minha mãe, que era astrofóbica. Certa vez, quando começou uma tempestade forte para os lados de Alegre, esta mulher resolveu fechar a sua casa, sentou-se em uma cadeira de madeira e se enrolou em uma coberta. Sabe-se lá como o raio caiu sobre a casa dela e atingiu a fiação da casa, de um modo tão estranho, que acabou a atingindo. Ela não sobreviveu.

Certa vez na adolescência, estava na casa de minha avó. Quando amanhecia, fui acordada por um estrondo e o estremecimento da casa. Um raio havia caído sobre o gerador de energia queimando-o. Me levantei apavorada e me deparei com a minha avó mexendo no fogão de lenha calmamente. Dona Zeni não tinha medo nem de raio, nem de nada.

Ainda que tenha “puxado” a minha avó (tanto na aparência, como temperamento, manias e trejeitos) não aprendi – ou melhor, não puxei essa coragem – no mais enfrento qualquer situação adversa, desde uma tentativa de assalto propriamente dito, como até assombração em qualquer hora e lugar, assim como vovó. Ela de vez em quando empunhava uma espingarda. Eu preciso sempre pensar rápido e vou no improviso.

Se D. Zeni aqui estivesse iria se sentar próxima a janela com a canequinha esmaltada cheia de café e observar os raios se desenhando no céu. Mas como sou eu aqui protagonizando a cena me afasto da janela, sento no sofá de tecido e escrevo. As palavras me encorajam e devolve-me o fôlego, enquanto a chuva cai e os raios se afastam. Ainda bem.

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