Era para hoje falar de pequenas experiências de viagem. Era. Esse é o tempo verbal. Do passado para o presente, é só uma questão de clique. Talvez consiga resolver com uma simples reinicialização da máquina. Mas a opção está indisponível. Penso que, se tentar “CONTROL + ALT + DELETE”, abrirão novas opções. Também não. A única possibilidade é a mais agressiva: o boot. Quando preciso fazer isso, aperto o botão com tensão. É o receio de cometer um erro. Ainda mais porque acabei de cometer o primeiro (sem saber). Respiro com tensão.
Da tela preta à azul, vejo o meu reflexo. Sou um espectro que mal se mexe. Confusa e arrependida, penso: “por que reiniciei o notebook? Mas como poderia adivinhar?” e “será que isso aconteceu só porque baixei aquele editor de vídeos?”.
A tela azul brilhante me apaga e faz meus olhos arderem. Preciso enfrentá-la e ler as poucas frases brancas apresentadas, com esperança de que me ofereçam a solução. Não. Só há menus, e cada um mais estranho do que o outro: Prompt. Prompt de comando. E há as “opções avançadas”. Clico mais por curiosidade do que qualquer outra coisa. Do que vi, nada entendi. Dentre as tantas opções, havia mais “prompts”. Afinal, o que é prompt?
Acesso ao Google e também ao YouTube; procuro por “Preparando reparo automático”. De tanto ler e assistir, adivinho o que será apresentado no próximo “conteúdo”. Não demora muito e tenho a sensação de clicar nos mesmos menus e assistir aos mesmos vídeos repetidamente. Quando percebo, me afobo. E se tivesse tentado algo diferente? Mas qual ainda não cliquei? E nesse impasse, retorno certamente, quase automaticamente, às mesmas opções. A pior delas, se é que posso assim dizer, são as que me pedem senha. Qual senha? Tentei uma; não é. Tentei outra; também não é. Decido clicar no cansativo “Esqueci a senha”.
Nesta altura, a irritação prevalece e tende a crescer: fornecer o e-mail registrado (é preciso lembrar também), acessar a caixa de e-mail, torcer para que a mensagem chegue logo, clicar imediatamente (para adiantar o processo), clicar no link, criar uma nova senha, guardar imediatamente (para não esquecer) e tentar novamente o passo inicial. E não dá certo.
Novos sentimentos afloram como água em ebulição. A vontade é de desistir: jogar fora o notebook e comprar outro resolveria o problema em partes, já que o aparelho defeituoso manteria os arquivos armazenados e inacessíveis. Isso custa caro; pensar nisso causa-me agonia.
Desligo o computador na ilusão de que, ao religá-lo, tudo voltará ao normal, como antes. Procuro então outras tarefas, outras distrações mentais. Um tempo ao tempo: Senhor das razões; todas; infinitas.
Não sei por quanto tempo demorei. Quando retornei e liguei o computador, nada mudou: tela azul novamente. Assisti (de novo) algum vídeo no YouTube e resolvi ler os comentários. Alguma boa alma escreveu que usou um cabo OTG, baixou o Windows no celular e fez a reinstalação do sistema. Senti alguma esperança.
Iniciei o download do Windows 10 no meu tablet; não suportou: memória insuficiente! Pedi à Rosaline que tentasse pelo celular dela – mais novo; quiçá com mais memória! Demorou… Mas deu certo! Precisou pausar algumas vezes para que os KBs e MBs baixassem; nada do que boas horas não fossem suficientes para resolverem.
Quando finalmente baixado, deparei-me frente à tela azul com duas únicas opções: reinstalar mantendo os arquivos pessoais ou reinstalar com uma formatação completa – a opção mais drástica! Receio perder o que não lembro mais que permanece instalado e recorro à primeira opção: a mais segura! Clico! Respiro! E ensaio uma esperança: “no fim tudo dá certo”. Ou seria “dará”? Tempos verbais e fé… Discrepância!
Clico na opção segura e arrisco uma nova senha – dá certo! Era só acrescentar um dígito! Um único só! Reinstalo o Windows; as porcentagens carregam sobre a tela azul… Penso no que poderei recuperar… Quantos e quais?
Quero ver como não quero ver… Somente os arquivos pessoais e os programas de fábrica permanecerão… Penso nos programas que instalei depois – eram importantes! Havia plugins instalados; alguns deles premium que consegui gratuitamente e que mesmo agora pagando não recuperarei fácil… Não lembro os nomes… Eram todos em inglês… Não salvei nenhuma cópia… Nada anotei… Sinto-me burra… Arrependida… Amargurada…
A reinstalação do Windows demorou a ser concluída – foi mais de uma hora! Quando finalmente liguei o computador segurei o fôlego… Realmente o sistema manteve os arquivos pessoais e os programas originais! Estava mais leve e veloz! Agora precisava decidir quais programas reinstalar – pois antes do problema algum deles havia provocado todo aquele transtorno.
Agora como em qualquer situação deveria agir com cautela… Pressinto certo alívio… Posso redirecionar meus pensamentos à escrita do meu livro como também às minhas crônicas… Já posso pensar e escrever sobre as pequenas experiências da minha última viagem… Posso… E faço… Rascunho!
Preparando reparo automático… Ah não!

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