Se gosto de viajar? Adoro. De avião? Com certeza! Mas, antes preciso fazer uma ressalva: eu fiquei supersticiosa. Supersticiosa? Isso mesmo, meu caro e minha cara! Creio que vocês também no meu lugar ficariam.
Já enfrentei turbulências estilo montanha russa – quem já voou entre Vitória e Rio de Janeiro sabe a “delícia” que é – como também já fui presenteada com dois intensos flashes de raios em uma viagem saindo de Campinas com destino ao Rio.
Como sempre digo, a comédia tem o dom da amenidade, pois se naquele dia eu não estivesse nostalgicamente prestando atenção em um episódio do humorístico “Toma lá dá cá”, exibido no Canal Viva eu teria gritado naquele voo silencioso.
Não que tudo estivesse sereno, pois as condições meteorológicas não eram nada agradáveis (havia tensão nos passageiros), mas a cabine de comando se sentia no comando da situação e decolamos em uma tarde de tempestade, onde o dia se transformou imediatamente em noite.
Como um cenário típico de filme de terror, os raios de Santa Bárbara (ou Yansã como religiosamente aprouver) cortaram todo o céu como se rasga algo ao meio com muito gosto.
Estávamos todos atrasados e, com o tempo fechado, o atraso pode gerar sentimentos minimamente controversos. Também o que se esperar frente a raios e chuvas torrenciais? Às vezes, o não pensar é o melhor pensamento com o qual se pode contar e, como geralmente viajo próxima a asa, o não pensar lateralmente perto daqueles raios que caíram era uma forma de alívio.
E foi, pois como se diz “depois da tempestade vem a bonança”. No meu caso vêm os pensamentos acompanhados da prima lembrança – e ambos voam alto!
Certa vez, peguei um voo Vitória X São Paulo com conexão no Rio (acho que era no Galeão). Como fazia uma agradável manhã com direito a garoa (alguém sabia que eu ia para Sampa?), entrei na aeronave e procurei por minha poltrona, a qual era no corredor.
Gosto da janelinha que pouco (se permiso?) posso ver, mas me iludo assim mesmo, porém dessa vez uma mulher foi mais esperta e conseguiu primeiro. Tão esperta que colocou a sua pequena filha de 2 anos na poltrona do meio – eu, em minha passageira opinião teria colocado a menininha ali, na janela, mas me lembrei que não sou mãe…
Não posso ver criança como elas também não podem me ver. E, molecamente comecei uma conversa. Ela com 2 anos e eu… ahn, deixa para lá! Sou também criança. E o nome dela? Valentina! Belo nome…
Voávamos e falávamos, falávamos e todos riam (criamos uma plateia). Estava divertido? Sim, até chegar à montanha russa (vulga turbulência) que citei no início. Esta montanha foi tão alucinante que para ser considerada perfeita só faltou o looping (opa, era um avião da esquadrilha da fumaça?). Todos rezavam com ardor para Deus, Jesus, Nossa Senhora (tava mais perto né?)
Após a eternidade dos minutos à parcimônia das horas, só olhei para a Valentina e disse “e aí, tudo bem?” No balanço daquela cabeça cacheada ouvi um “ham ham”. Entre um riso nervoso do fundo, um “obrigado Senhor” na frente, continuei conversando com a Valentina até a aterrissagem no Rio… Ela seguiria para o sul do país.
Imprecisamente um ano depois, cheguei correndo no aeroporto de Campos (RJ) com destino direto Sampa (terra boa). Era a primeira vez que enfrentaria um atraso no embarque. O avião demorou a chegar (existe piloto lerdo?). Tanto que deu tempo de fazer amizade na sala de espera.
Uma jovem mulher, professora universitária, iria para Ribeirão Preto com sua pequena e altiva filha. Nome? Adivinha… Valentina e esta tem 3 anos!
Com toda a sua hiperatividade ela me mostrou o “joguinho” da Peppa no tablet (e aí entendi por que via muitas porquinhas rosas à venda nas lojas), pedia um monte de coisas a mãe e brincava com as outras crianças na sala.
Fizemos o embarque imediato no mesmo voo, todavia não decolamos imediatamente. A aeronave apresentou um problema que precisava de reparo técnico no solo. Regressamos todos à sala para uma espera de uma hora.
Quando finalizado, novo embarque. Desta vez eu iria à janelinha. E a Valentina? Também, na poltrona anterior a minha. Voamos 2 horas sem saber qual foi o problema da aeronave e, pela primeira vez, não consegui ler a revista de bordo, pois a tensão gerada e os “por quês mãe” da Valentina não me deixavam concentrar.
Então, já sei o que quer me perguntar, vai lá. Se gosto de viajar? Sim. De avião? Claro. Fazer check in com uma pequerrucha Valentina? Nem pensar! E se for adulta? Sou supersticiosa. Prefiro não arriscar.
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